A questão das drogas, na atualidade, vem sendo subordinada a dois eixos: saúde e segurança. Esses eixos a cada dia se especializam mais, ligando suas ações a peritos e especialistas, reduzindo e limitando o conhecimento do todo ao conhecimento das partes, distanciando a questão das drogas dos processos educacionais. A educação tem papel primordial na formação ética sobre essa temática, segundo Freire (1996) faz parte do pensar certo do docente a rejeição a qualquer forma de discriminação. Aceitar e respeitar as diferenças são virtudes do educador progressista, sem esse respeito, não há possibilidade de escuta verdadeira ao educando. Iremos significar, enquanto problema de pesquisa, as representações imaginárias sobre drogas contidas na formação docente, elemento primordial para entender como os professores atuam em sua ação educativa sobre o tema, numa interseção com a complexa realidade educativa contemporânea. Com objetivo de investigar e problematizar as representações imaginárias sobre drogas elaboramos o curso Drogalidade, como principal fonte de coleta de dados para esta pesquisa. As oficinas foram elaboradas conforme análise das temáticas que, a nosso ver, seriam essenciais no processo de construção do curso. Com os dados coletados, fomos tecendo as análises ao longo dos escritos e fazendo uso dos referenciais teóricos, conforme seu valor, para interpretar o material coletado. Nesse processo, fomos favorecendo encontros que poderiam ser pontos de atrito a se transformarem em possibilidades, respeitando, obviamente, os limites de certos entraves. Porém, mostramos que diferentes contribuições podem agregar valores, já que a complexidade do tema irá perpassar uma multiplicidade de saberes que vão constituir as representações sobre drogas contidas no discurso e no olhar dos 34 professores investigados provenientes de diversas escolas do município de Santa Maria/RS. Através do material produzido nas oficinas e nas falas dos professores investigados, evidenciamos que as representações sobre drogas estão ligadas ao discurso antidrogas, hegemônico na sociedade atual, tendo como efeito a ação repressora, fazendo com que os professores exerçam uma função policial na relação com os alunos. Verificamos esse aspecto através de elementos como a ausência de percepção sobre as drogas através dos tempos e a importância de nossas representações enquanto sujeitos ativos nessas construções; o estigma constituído em torno dos usuários de drogas em contraponto com a ausência de olhar ao fato de que todos nós, de alguma forma, somos também usuários de alguma droga, encobertos pelo mito da legalidade e ilegalidade das drogas, que dificultam essa auto-percepção. Por fim, - e talvez a mais importante das análises - foi verificarmos as distintas maneiras pelas quais os docentes investigados entrelaçam-se na busca pelo prazer, bem como o quanto estes atrelam medo ao prazer, o que é estranho, nesse caso das drogas ilegais, pois faz com que se sintam ameaçados em perder seu marco referencial e seu sentido de continuidade. Sendo assim, as representações antidrogas são consensuais, constituídas de conteúdos familiares, vinculadas ao poder político pela mídia à mitos, ideologias e paradigmas que se instituem no processo de comunicação, configurando as representações dos professores investigados sobre o fenômeno das drogas em nossa sociedade. O presente trabalho faz parte da Linha de Pesquisa Formação Docente, do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSM.
Referências para citação: PRADO, C. M. A. S. O Imaginário sobre Drogas na Formação Docente: O que se sabe, o que se fala e o que se faz. 178f. 2007. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal da Santa Maria, Rio Grande do Sul
Obs.: Material linkado com o Sistema de Publicação Eletrônica de Teses e Dissertações - Bilblioteca Digital UFSM