O trabalho discute alguns conceitos relacionados com o tema, tais como saúde e doença, problematizando também o aporte teórico que entende práticas médicas como sendo determinadas pelo conjunto de idéias veiculadas pela cultura. Uma premissa é de que cultura exerce papel fundamental sobre os estados de saúde e doença, mas se questiona a determinação das idéias sobre a prática. Coloca-se o conceito de experiência da doença e da saúde, voltando-se para o indivíduo doente, o corpo do doente, onde o saber está radicado, e para a estrutura subjacente de significados culturais. O que é fazer saúde dentro dos contextos de mudança experimentados pelas populações indígenas brasileiras? No caso indígena é a experiência dupla do rompimento com o hábito da vida quotidiana e da intromissão de práticas médicas modernas, que enclausura zonas de imprecisão e elementos contraditórios. Ao se comprometer com as condições de saúde indígenas, a modernidade co-existe com práticas médicas antigas, baseadas no saber tradicional. O processo de contato com a sociedade dominante modificou o entendimento sobre doença e bem-estar, mas as práticas herdadas através da história oral e da práxis não desapareceram por completo, nem deverão ser destruídas, pois existem contextos médicos plurais dentro das aldeias. Relata-se a experiência em andamento do projeto de saúde indígena conhecido como Farmácia Viva Kariri-Xocó para exemplificar como tradição e modernidade podem caminhar ao encontro do entendimento do processo tradicional de saberes e práticas médicas, ao passo que se capacitam indígenas para revitalizar sua práxis enquanto usam um aparatus tecnológico moderno.
Referências para citação: MOTA, Clarice Novaes da. Saúde e povos indígenas: tradição e mudança. In; FERREIRA, Maria Beatriz Rocha. Et. Al..Cultura corporal indígena. Guarapuava, Ed. Unicentro, 2003