A efetividade da detecção e intervenção breve (DIB) para álcool e outras drogas no mundo real ainda não é bem conhecida, apesar da comprovação na área da pesquisa. A fase inicial da implementação é fundamental para o planejamento de estratégias que minimizem ou eliminem as barreiras existentes. Sabe-se que a transferência de conhecimentos para a prática cotidiana é um processo complexo, lento e muitas vezes imprevisível. Este estudo foi desenvolvido em locais de atenção primária à saúde (APS) e teve por objetivo avaliar o processo de implementação da DIB quando realizada por profissionais de saúde nas cidades de Curitiba, Lapa e São José dos Pinhais (SJP), todas no estado do Paraná, durante o período de janeiro de 2007 a dezembro de 2008. Foi solicitado aos gestores de saúde dos 3 municípios, com o apoio da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, que indicassem profissionais da APS para participar de um treinamento em DIB. A indicação dos profissionais deveria ser feita de acordo com a política local. Na Lapa, o próprio secretário da saúde indicou pelo menos um representante de cada unidade básica de saúde, totalizando 13 profissionais de 11 unidades. Em SJP, foi a coordenadora de saúde mental do município que fez indicação de todos os profissionais de todas as unidades de APS, totalizando 58 profissionais de 17 unidades. Em Curitiba, a indicação foi feita pela Coordenação de Saúde Mental, porém, apenas os profissionais motivados com o tema participaram, totalizando 32 profissionais de 10 unidades, sendo estas oriundas do Distrito do Cajuru, conhecido como uma região com muitos problemas relacionados às drogas. No total, foram 103 profissionais treinados no uso do ASSIST (Alcohol Smoking and Substance Involvement Screening Test) para identificar usuários de risco de álcool e outras drogas e conduzir a intervenção breve (IB). A IB é uma estratégia de prevenção baseada na entrevista motivacional que tem por finalidade a redução do consumo de drogas evitando assim o aparecimento da dependência. Entre os profissionais treinados estavam médicos, enfermeiros, psicólogos, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde. Doze meses depois, 20 profissionais que aplicaram pelo menos um ASSIST (A) e 24 que não aplicaram nenhum ASSIST (N) foram entrevistados pessoalmente ou por telefone para avaliação das barreiras enfrentadas, assim como, dos pontos positivos e negativos da DIB. As respostas foram anotadas pelo entrevistador e, posteriormente, interpretadas e codificadas por dois pesquisadores independentemente. Os índices dos usuários de drogas obtidos pelos profissionais foram comparados aos obtidos por pesquisadores em estudo similar realizado previamente. Pesquisadores detectaram maior número de usuários que os profissionais. Nenhuma diferença significante foi observada entre as barreiras relatadas pelos profissionais “A)” e “N”. Profissionais “A” relataram não haver nenhum ponto negativo, mas também, não houve nenhuma mudança na unidade de saúde após o estudo, sugerindo que mesmo executando a DIB, eles estavam desmotivados e sem expectativas. De maneira geral, os profissionais têm crenças positivas, mas é necessário melhorar suas atitudes relacionadas aos problemas com drogas. Este estudo confirma a lacuna entre pesquisa e mundo real.
Referências para citação: ZOTTIS, C. R. Detecção precoce e intervenção breve para o uso de risco e nocivo de drogas: avaliação dos resultados para implementação na atenção primária à saúde em três municípios do Paraná. 2009. 110f. Dissertação (Mestrado em Farmacologia). Universidade Federal do Paraná, Paraná