Este trabalho tem como proposta analisar a relação oportuna da Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas (PAIUAD) com o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS AD) Primavera, em Aracaju - SE. A publicação desta política, em 2003, introduziu na máquina do Estado todo um ideário e um novo vocabulário que lhe dotaram de intensa força instituinte, nos interessando pensar como isso se implementa por dentro deste CAPS. O problema de pesquisa foi engendrado e analisado a partir de quatro ferramentas metodológicas: cartografia, genealogia, pesquisa documental e caderno-diário.O cotidiano de um serviço como este é permeado pela coexistência e permanente tensão de forças, de modo que a investigação desenvolvida neste trabalho buscou acompanhar os movimentos de algumas das linhas de força que compõe e atravessam este serviço para, assim, apontar práticas que se articulam ao saber/poder médico-sanitarista, atualizando mecanismos biopolíticos de controle da população e as práticas que escapam dessa captura, produzindo outras formas de lidar com o uso e com usuários de álcool e outras drogas. Em linhas gerais, nossos achados apontam que quando o CAPS AD Primavera produz práticas de verticalização das relações, burocratiza seu fluxo interno e dispositivos de cuidados e funciona de forma enCAPSulada. Ele limita os princípios e diretriz da PAIUAD e atualiza estratégias de poder do saber médico-sanitarista. Numa direção contrária, quando as práticas neste serviço enfatizam a horizontalização das relações, a abertura para o território e articulação entre clínica e política, elas fortalecem os princípios e diretrizes da PAIUAD, bem como potencializam a produção da autonomia dos sujeitos e coletividades.
Referências para citação: Martins, João Sampaio: CAPS AD III Primavera : entre a cor cinza da técnico-burocracia e as cores vibrantes que articulam clínica e política / João Sampaio Martins São Cristóvão, 2015