Através da validação de instrumentos de medida de variáveis psicossociais, este estudo visou ampliar o conhecimento sobre o papel de fatores cognitivos relacionados ao consumo de álcool e teve como objetivos principais:
- (a) construir e validar a Escala de Benefícios e Barreiras percebidos em Evitar o Consumo de Bebidas Alcoólicas para amostras brasileiras,
- (b) adaptar e validar uma versão da escala DRIE (Drinking Related Internal-External Locus of Control Scale) para amostras brasileiras,
- (c) testar a capacidade de predição das crenças e percepção de controle sobre o consumo de álcool.
Para isso, o projeto constou de duas fases distintas e, em ambas, o AUDIT (Alcohol Use Disorders Identification Test) foi utilizado para medida do padrão de consumo de álcool no último ano. Na fase inicial foram entrevistados 66 bebedores-problema, em tratamento ou não, para levantamento de benefícios e barreiras percebidos em evitar o consumo de álcool, tendo como base teórica o Modelo de Crenças em Saúde. Os resultados desta fase possibilitaram a construção dos itens da versão piloto da escala. Já a escala DRIE original em inglês passou por uma tradução e retradução e, em seguida, as duas escalas passaram por avaliação semântica e validação de conteúdo e por uma aplicação piloto. Na segunda fase do estudo, para validação empírica das escalas, participaram 433 servidores de uma instituição federal de ensino superior. Os dados foram analisados através do programa SPSS for Windows, para avaliar a estrutura fatorial e a confiabilidade dos instrumentos. As análises fatoriais apontaram os 19 itens da versão final da Escala de Benefícios e Barreiras Percebidos em Evitar o Consumo de Bebidas Alcoólicas, reunidos em dois fatores de segunda ordem (benefícios percebidos e barreiras percebidas), ambos com índices satisfatórios de consistência interna. A versão brasileira da escala DRIE, após análises fatoriais, permaneceu com 35 itens alocados em dois fatores (externalidade e internalidade), também com índices bastante satisfatórios de consistência interna. Os resultados dos testes de correlação e comparação entre os grupos foram, em sua maioria, coerentes com as expectativas teóricas. O grupo de bebedores-problema percebeu significativamente menos benefícios e mais barreiras em evitar o consumo de álcool e mostrou-se mais externo no locus de controle do comportamento de beber do que o grupo de abstêmios ou usuários de baixo risco. Foram encontradas correlações positivas entre o escore do AUDIT e as barreiras percebidas, e correlações negativas entre o padrão de consumo de álcool e benefícios percebidos. Em relação ao locus de controle, o escore no AUDIT correlacionou-se positivamente somente com a Externalidade. Análises de regressão múltipla apontaram que o modelo testado neste estudo predisse significativamente o consumo de álcool nos últimos 12 meses, explicando 16% da variância total da variável dependente. Conclui-se que os instrumentos aqui validados podem contribuir para o desenvolvimento de pesquisas no meio brasileiro e para planejamento de programas de prevenção e intervenção, visto que se mostraram úteis também na população de não-alcoolistas.
Referências para citação: FARNESI, Carla Costa. Construção e validação de escalas para medida de crenças e de percepção de controle do consumo de bebidas alcoólicas. Uberlândia, MG. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Uberlândia, 2009.
Obs.: Material linkado com o Sistema de Publicação Eletrônica de Teses e Dissertações - Bilblioteca Digital IBICT