OBSERVATÓRIO BAIANO SOBRE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS

CETAD Observa

Discurso e memória autobiográfica em adolescentes usuários de drogas

A memória autobiográfica é uma memória de longo prazo relacionada à história de vida individual e coletiva que reflete o funcionamento cognitivo, lingüístico e afetivo. Torna-se mais elaborada na adolescência, fase da vida em que grande parte das pessoas experimenta álcool e drogas. O objetivo desta tese foi o de traçar e relacionar o perfil dos discursos autobiográfico oral livre e eliciado de fatos ocorridos na infância em 77 adolescentes usuários e não usuários de drogas, de ambos os gêneros. Os usuários de álcool e/ou drogas (n=37) estavam em tratamento para dependência química no Grupo de Adolescentes e Drogas do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e os não usuários de drogas (n=40) estavam regularmente matriculados em Escola Municipal de Ensino Fundamental da Cidade de São Paulo. O discurso autobiográfico oral livre foi analisado com base em dois modelos: o de Peterson e McCabe? (1983) - que privilegia a estrutura discursiva através da identificação dos elementos cenário, complicação, resposta interna, tentativa, conseqüência e reação - e o de Brown et al. (1986) - que verifica os temas das memórias (pessoal, público e ocupacional). Foram igualmente aplicados questionários para as avaliações da memória autobiográfica (Borrini et al., 1989) e da memória semântica com características autobiográficas (Kihlstrom e Schacter, 1995). Apesar de não terem sido encontradas diferenças significativas em relação aos temas (Brown et al.,1986), de acordo com o modelo de Peterson eMcCabe? (1983), em geral, os usuários tiveram menos incidência de estruturas discursivas do que os não usuários e os meninos usuários tiveram pior desempenho do que os demais sujeitos. Este achado foi semelhante para o questionário de memória semântica com características autobiográficas (Kihlstrom e Schacter, 1995). Para o questionário de memória autobiográfica (Borrini et al., 1989), foram encontrados desempenhos semelhantes entre usuários e não usuários. Porém, os meninos usuários apresentaram menos lembranças do que os meninos não usuários e do que as meninas usuárias. Além disso, os meninos não usuários também apresentaram menos lembranças do que as meninas não usuárias. Esta tese constatou que, apesar de todos os jovens falarem sobre temas semelhantes, relacionados principalmente às questões pessoais, adolescentes que usam drogas tiveram maior dificuldade para acessarem suas memórias autobiográficas, tanto em discurso oral livre quanto em discurso eliciado de fatos ocorridos na infância. Este dado parece não só ser indicativo de alterações cognitivas e lingüísticas decorrentes do uso de drogas mas, também, de questões relacionadas ao impacto que as drogas têm nos processos de busca de novos conhecimentos e de socialização. O gênero feminino (usuárias e não usuárias) parece ter um perfil mais homogêneo do que o masculino (usuários e não usuários).

Referências para citação: DE OLIVEIRA, Christian Cesar Candido.Discurso e memória autobiográfica em adolescentes usuários de droga. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2007

Obs.: Material linkado com o Sistema de Publicação Eletrônica de Teses e Dissertações da Universidade de São Paulo.

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Assunto: 
Drogas e sujeito
Autor(a):: 
DE OLIVEIRA, Christian Cesar Candido
Palavras Chaves: 
memória, autobiografia, linguagem, adolescente, transtornos relacionados ao uso de substâncias