O uso e o tráfico de drogas, associados à violência, constituem-se numa das questões mais emblemáticas da sociedade contemporânea. Por acreditar na necessidade de realizar investigações e reflexões sobre este problema, visando subsidiar programas de promoção de saúde e cidadania através de um novo enfoque, realizei o presente estudo com os seguintes objetivos gerais: conhecer, sob o ponto de vista dos agentes participantes, as percepções e concepções relacionadas ao tráfico de drogas na cidade de Ribeirão Preto e região; e que tem por objetivos específicos, conhecer, sob o ponto de vista dos participantes:
- 1. as razões que levam as pessoas, principalmente os jovens, a se envolverem com o tráfico de drogas;
- 2. as percepções e concepções sobre a estrutura e/ou organização do tráfico de drogas, funções dos atores sociais envolvidos, inclusive com relação ao adolescente;
- 3. as apreciações sobre a violência relacionada ao tráfico de drogas e, em particular, sobre a participação do adolescente na mesma.
Foram sujeitos deste estudo sete homens, com idades entre 27 e 60 anos, que têm ou já tiveram envolvimento no tráfico de drogas, na cidade de Ribeirão Preto e região. Os participantes foram intencionalmente escolhidos, levando-se em conta sua vinculação significativa com o problema investigado. Procedimento: a entrevista, com roteiro semi-estruturado, foi o principal instrumento para a coleta de dados. Foram realizadas vinte e três sessões de entrevistas individuais, no período de agosto de 2.001 a setembro de 2.002, e julho a agosto de 2.004. Como instrumentos complementares, foram utilizados registros em notas, em Diário de Campo, assim como, de narrativas fortuitas. Análise de dados: os dados obtidos foram analisados através de uma abordagem qualitativa, sob uma perspectiva compreensivista, a qual privilegia o ponto de vista dos agentes sociais envolvidos. O método de análise foi o de conteúdo temático. A análise dos dados mostrou os múltiplos motivos que podem levar alguém a envolverse com o tráfico de drogas, a partir do ponto de vista dos participantes. São razões que podem se dar isolada ou simultaneamente, e que, muitas vezes, se entrelaçam e se interpenetram. Nas concepções sobre a estrutura e a organização do tráfico de drogas, denominado por eles de “movimento”, sobre os atores envolvidos e os papéis desempenhados, recolhi uma variedade extensa de categorias. Elas sugerem que o tráfico de drogas está em constante mutação; é dinâmico, improvisado e repleto de alternativas: fraciona-se, migra, difunde-se, escapa e, ainda, é permeado de símbolos e folclores. As apreciações dos participantes sobre a violência relacionada ao tráfico de drogas e, em particular, à participação do adolescente neste contexto, trouxeram relatos, reflexões e questionamentos sobre as mais diversas representações inseridas na dinâmica do tráfico de drogas.
Referências para citação: GUIMARÃES, A. L. C. Tráfico de drogas: percepções e concepções de seus agentes na cidade de Ribeirão Preto. 300f. 2005. Dissertação (Mestrado em Psicologia). Universidade de São Paulo, São Paulo