Em torno do aumento do consumo de crack e da proliferação das chamadas “cracolândias” por todo o país, se estabeleceu um campo de disputa entre uma série de sujeitos, instituições e saberes, de modo que diversas tecnologias e práticas de repressão, vigilância e cuidado tem sido acionadas, assim como diferentes esferas da vida social (saúde, assistência, repressão, família etc.) vem sendo mobilizadas. Com a criação pelo governo federal da Política Nacional de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, cujo mote é “Crack, é possível vencer”, além de constantes operações estaduais em cenários de uso, o crack tem assumido uma posição central no que diz respeito ao controle e gestão de populações e espaços urbanos. No entanto, pouco tem sido sistematicamente estudado acerca do crescente papel da Igreja, mais especificamente de igrejas evangélicas, na assistência, evangelização e conversão dos chamados “noias”. Nesse sentido, através de dois anos de pesquisa de campo na Missão Cristolândia, o presente trabalho trata das políticas missionárias batistas no contexto específico da estigmatizada “cracolândia”, situada na região da Luz, em São Paulo. Esse estudo pretende abordar o modelo de atendimento e de tratamento oferecido pelo projeto aos usuários de drogas, de modo a considerar as tecnologias e saberes envolvidos na evangelização e conversão do público-alvo, além da forte presença de componentes territoriais no foco desta ação missionária. Tendo em vista que para meus interlocutores evangélicos pensar a “guerra contra o crack” não se restringe a uma política terrena entre homens, mas implica considerar um contexto de batalha espiritual, assim como a agência de entidades em disputa pela gestão e controle de corpos, almas e territórios, proponho pensar uma “cosmopolítica” batista de combate ao crack.